Leveduras Específicas para Cada Estilo de Cerveja

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leveduras especiais para fermentação de cervejas
leveduras especiais para fermentação de cervejas

A escolha da levedura é um dos fatores mais importantes que definem o estilo e o perfil de sabor de uma cerveja. Existem quatro categorias principais de leveduras utilizadas na produção de cerveja.

Processo Básico de Produção de Cerveja:

A produção de cerveja envolve várias etapas distintas:

  1. Moagem do Malte:

    • Os grãos de malte (geralmente cevada maltada) são moídos para quebrar o seu invólucro e expor o amido contido no endosperma. A moagem adequada é crucial para uma boa extração dos açúcares na próxima etapa.
  2. Mosturação:

    • O malte moído é misturado com água quente em temperaturas específicas (faixas de temperatura) em um processo chamado mosturação.
    • Enzimas presentes no malte são ativadas nessas temperaturas, convertendo o amido em açúcares fermentáveis (principalmente maltose) e não fermentáveis (dextrinas). O perfil de açúcares influencia o corpo e a doçura final da cerveja.
    • Diferentes rampas de temperatura durante a mostura favorecem diferentes atividades enzimáticas, permitindo ao cervejeiro controlar as características do mosto.
  3. Lautering (Filtragem do Mosto):

    • Após a mostura, a mistura (agora chamada mosto) é transferida para um recipiente de filtração (lauter tun).
    • O mosto doce é separado dos grãos (bagaço) através de um leito filtrante formado pelas cascas do malte.
    • Uma lavagem dos grãos com água quente (sparging) ajuda a extrair o máximo possível de açúcares residuais.
  4. Fervura do Mosto:

    • O mosto doce é transferido para uma panela de fervura e fervido vigorosamente por um período determinado (geralmente 60-90 minutos).
    • Durante a fervura, o lúpulo é adicionado em diferentes momentos para contribuir com amargor (adições iniciais), aroma e sabor (adições tardias).
    • A fervura também esteriliza o mosto, coagula proteínas indesejadas (hot break) e concentra o mosto por evaporação.
  5. Resfriamento do Mosto:

    • Após a fervura, o mosto quente precisa ser resfriado rapidamente até a temperatura ideal para a inoculação da levedura. Um resfriamento rápido ajuda a prevenir a contaminação por microrganismos indesejados e a formação de DMS (dimetil sulfeto), um off-flavor indesejado.
  6. Fermentação:

    • O mosto resfriado é transferido para um fermentador sanitizado, e a levedura selecionada é inoculada.
    • A levedura consome os açúcares fermentáveis do mosto, produzindo álcool etílico, dióxido de carbono e uma variedade de outros subprodutos que contribuem para o sabor e aroma da cerveja.
    • A fermentação é a etapa central onde o mosto doce se transforma em cerveja.
  7. Maturação (Opcional):

    • Após a fermentação primária, muitas cervejas se beneficiam de um período de maturação (ou secundária). Isso permite que a levedura restante limpe subprodutos indesejados, que os sabores se harmonizem e que a cerveja se torne mais límpida. A maturação pode ocorrer no mesmo fermentador ou em outro recipiente.
  8. Acondicionamento (Carbonatação):

    • A cerveja precisa ser carbonatada. Isso pode ser feito de várias maneiras:
      • Carbonatação Natural (Priming): Adição de uma pequena quantidade de açúcar ao fermentador antes do engarrafamento ou envase em barris. A levedura residual fermenta esse açúcar, produzindo CO2 que carbonata a cerveja.
      • Carbonatação Forçada: Injeção direta de CO2 na cerveja sob pressão em um barril ou tanque.
  9. Envase:

    • A cerveja carbonatada é envasada em garrafas, latas ou barris limpos e sanitizados.

Detalhes da Fermentação:

A fermentação é o coração da produção de cerveja, onde a levedura desempenha o papel principal. As condições de fermentação (temperatura, oxigenação inicial, nutrientes) influenciam diretamente a saúde e o desempenho da levedura, bem como os sabores produzidos.

  • Fases da Fermentação: Geralmente, a fermentação passa por algumas fases:

    • Fase de Adaptação (Lag Phase): A levedura se adapta ao novo ambiente, absorve nutrientes e começa a se multiplicar.
    • Fase de Crescimento Exponencial: A levedura se reproduz rapidamente, consumindo os açúcares do mosto.
    • Fase de Fermentação Primária: A maior parte dos açúcares é convertida em álcool e CO2. A atividade da levedura é mais intensa e visível (formação de krausen – uma espuma no topo do fermentador).
    • Fase de Fermentação Secundária (ou Maturação): A atividade da levedura diminui, ela começa a flocular (sedimentar), e subprodutos da fermentação são reabsorvidos ou convertidos.
    • Fase de Condicionamento: Os sabores se estabilizam e a cerveja se torna mais límpida.
  • Controle de Temperatura: A temperatura de fermentação é crucial e varia significativamente dependendo do tipo de levedura utilizada. Manter a temperatura dentro da faixa ideal para a cepa escolhida é essencial para evitar a produção de off-flavors indesejados (ésteres excessivos, álcoois superiores, diacetil, etc.) e garantir uma fermentação completa.

Uso de Leveduras Especiais para Produzir Cervejas:

A escolha da levedura é um dos fatores mais importantes que definem o estilo e o perfil de sabor de uma cerveja. Existem quatro categorias principais de leveduras utilizadas na produção de cerveja:

1. Leveduras de Alta Fermentação (Ale Yeasts – Saccharomyces cerevisiae):

  • Características:
    • Fermentam melhor em temperaturas mais altas, geralmente entre 15-24°C (59-75°F).
    • Tendência a subir para o topo do fermentador durante a fermentação, formando uma camada de espuma (krausen) mais espessa.
    • Geralmente produzem uma maior variedade de ésteres e álcoois superiores, contribuindo com sabores frutados (banana, maçã, pera, frutas vermelhas), florais, condimentados (cravo, pimenta) e complexos.
    • A atenuação (quantidade de açúcar que a levedura consome) pode variar dependendo da cepa.
  • Exemplos de Estilos de Cerveja: Ales (Pale Ale, IPA, Stout, Porter, Wheat Beer, Belgian Ales, etc.).
  • Exemplos de Cepa:
    • US-05 (Chico): Neutra, com boa atenuação, realça o sabor do lúpulo e do malte. Amplamente utilizada em Pale Ales e IPAs americanas.
    • Wyeast 1056 American Ale / White Labs WLP001 California Ale: Similar à US-05, limpa e versátil.
    • Wyeast 1214 Belgian Abbey / White Labs WLP530 Abbey Ale: Produz ésteres frutados e fenóis condimentados, característica de muitas cervejas de abadia belgas.
    • Wyeast 3068 Weihenstephan Weizen / White Labs WLP300 Hefeweizen Ale: Produz ésteres de banana e fenóis de cravo, típicos de cervejas de trigo alemãs (Hefeweizen).
    • Wyeast 1318 London Ale III / White Labs WLP007 Dry English Ale: Produz ésteres frutados e deixa a cerveja com um corpo mais macio, comum em muitas Bitter e Mild inglesas.

2. Leveduras de Baixa Fermentação (Lager Yeasts – Saccharomyces pastorianus):

  • Características:
    • Fermentam melhor em temperaturas mais baixas, geralmente entre 7-13°C (45-55°F).
    • Tendência a sedimentar no fundo do fermentador durante a fermentação.
    • Produzem um perfil de sabor mais limpo e neutro em comparação com as leveduras de alta fermentação, permitindo que os sabores do malte e do lúpulo se destaquem.
    • A fermentação geralmente leva mais tempo em temperaturas mais baixas.
  • Exemplos de Estilos de Cerveja: Lagers (Pilsner, Helles, Bock, Märzen, Vienna Lager, etc.).
  • Exemplos de Cepa:
    • Wyeast 2007 Pilsen Lager / White Labs WLP830 German Lager: Produz cervejas Pilsner clássicas com um perfil limpo e um leve caráter sulfuroso.
    • Wyeast 2206 Bavarian Lager / White Labs WLP820 Octoberfest/Märzen Lager: Ideal para cervejas Märzen e Oktoberfest, produzindo um perfil maltado rico e limpo.
    • Wyeast 2124 Bohemian Lager / White Labs WLP802 Czech Budejovice Lager: Adequada para Pilsners tchecas, produzindo um perfil limpo e levemente maltado.

3. Leveduras Kveik:

  • Características:
    • São leveduras tradicionais norueguesas que ganharam popularidade recentemente.
    • Capacidade de fermentar em temperaturas extremamente altas (até 30-40°C ou mais) sem produzir muitos off-flavors indesejados.
    • Fermentação muito rápida, podendo ser concluída em poucos dias.
    • Produzem uma variedade de ésteres frutados (cítricos, tropicais) dependendo da cepa e da temperatura de fermentação.
    • Muitas cepas apresentam alta floculação.
  • Exemplos de Estilos de Cerveja: Embora tradicionalmente usadas em cervejas caseiras norueguesas, as leveduras Kveik são agora utilizadas em uma ampla gama de estilos, especialmente aqueles onde um caráter frutado é desejado (IPAs, Pale Ales, Saisons, etc.).
  • Exemplos de Cepa (comumente encontradas comercialmente):
    • Voss Kveik: Produz notas distintas de laranja e tangerina.
    • Stranda Kveik: Pode produzir notas de frutas tropicais e um leve caráter terroso.
    • Sigmund’s Voss Kveik: Conhecida por sua rápida fermentação e perfil de laranja.
    • Lallemand LalBrew Voss Kveik: Uma versão seca e comercialmente disponível da Voss Kveik.

4. Leveduras Selvagens e Bactérias:

  • Características:
    • São microrganismos que não foram isolados e cultivados em laboratório da mesma forma que as leveduras de cultura pura. Podem incluir várias espécies de Saccharomyces (não pastorianus), Brettanomyces, bactérias ácido láticas (Lactobacillus, Pediococcus) e outras bactérias acéticas (Acetobacter).
    • A fermentação com leveduras selvagens e bactérias é muitas vezes mais imprevisível e complexa, podendo levar a perfis de sabor únicos e distintivos, incluindo acidez, notas funky, terrosas, frutadas complexas e até mesmo características de celeiro (“barnyard”).
    • Requerem um controle cuidadoso para evitar contaminações indesejadas em outras cervejas produzidas na mesma instalação.
    • A fermentação pode ser primária com leveduras selvagens ou secundária com Brettanomyces para adicionar complexidade ao longo do tempo.
  • Exemplos de Estilos de Cerveja: Sour Ales (Lambic, Gueuze, Flanders Red Ale, Berliner Weisse, Gose), algumas Saisons rústicas.
  • Exemplos de Microrganismos (comumente usados):
    • Brettanomyces bruxellensis: Produz notas funky, terrosas e, com o tempo, pode gerar acidez.
    • Brettanomyces lambicus: Contribui para os sabores complexos e acidez das Lambics.
    • Lactobacillus: Bactéria ácido lática que produz acidez lática, conferindo um azedume suave e agradável.
    • Pediococcus: Outra bactéria ácido lática que pode produzir maior acidez e, em alguns casos, diacetil (sabor de manteiga).
    • Misturas de culturas selvagens: Muitas cervejarias utilizam culturas mistas de leveduras selvagens e bactérias para obter perfis de sabor complexos.

A escolha da levedura é uma decisão fundamental para qualquer cervejeiro, pois ela influencia profundamente o caráter final da cerveja. Compreender as características de cada tipo de levedura e como elas interagem com os outros ingredientes e as condições de fermentação é essencial para criar a cerveja desejada. A experimentação com diferentes cepas e técnicas de fermentação é uma parte emocionante do processo de produção de cerveja.


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